“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”… Todo brasileiro já escutou ou leu o início do Hino Nacional. Um dos principais símbolos da cultura e identidade brasileira, ele carrega em sua letra a pedra fundamental do que conhecemos como Brasil enquanto um país independente e autônomo.
E se a letra é bela, a história do Hino Nacional brasileiro é tão bela quanto. Neste texto, você irá conhecer a história da criação e o significado de cada uma de suas estrofes. Confira!
A história do Hino Nacional Brasileiro
O Hino Nacional Brasileiro é um dos quatro símbolos oficiais da República Federativa do Brasil – nome oficial de nosso país. Este status está previsto na própria Constituição Brasileira, em seu artigo 13. Os demais símbolos da República são a Bandeira Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional.
A letra do Hino foi escrita por Joaquim Osório Duque-Estrada (1870-1827), um importante poeta brasileiro. Já a música é de autoria de Manuel da Silva (1795-1865), um compositor, maestro e professor muito importante durante o Império do Brasil. Ao longo das primeiras décadas da criação do Hino Nacional, ele passou por algumas pequenas alterações, e sua primeira gravação em disco foi realizada em 1917.
Antecedentes do Hino Nacional
O Brasil não possuía nenhum hino nacional durante o Período Colonial (1500-1822), afinal, era um território de posse portuguesa. No entanto, nem mesmo Portugal contava com um hino nacional, tendo, até a vinda da família real ao Brasil em 1808, o Hino ao Rei, que era substituído sempre que um novo monarca ascendia ao trono.
No entanto, após a vitória dos portugueses sobre Napoleão Bonaparte, o maestro lusitano Marcos Antônio da Fonseca Portugal criou uma canção em comemoração ao feito, que tornou-se uma espécie de primeiro hino nacional para o Reino de Portugal, Brasil e Algarves.
O Hino do Império do Brasil
Durante o período imperial (1822-1889), o Brasil possuía um hino diferente do atual. Originalmente, a canção recebeu o título de Hino Constitucional Brasiliense em agosto de 1822. Ele foi transformado em Hino da Independência por D. Pedro I em 1824, sendo ele próprio o responsável por musicar a letra.
Com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, o hino foi abandonado e substituído pelo hino atual. No entanto, em 1822 ele foi retomado e voltou a ser executado, constando até hoje no Hinário Brasileiro como Hino da Independência.
A criação do Hino Nacional
A composição de Francisco Manuel da Silva foi feita em 1831, quando aconteceu a abdicação de D. Pedro I de seu direito ao trono, no dia 7 de abril. À época, a música era apresentada como um drama intitulado com dois nomes: “O dia de júbilo para os amantes da liberdade” e “A queda do tirano”.
Desta forma é possível notar que a composição tinha conotações contrárias ao monarca brasileiro e servia como uma celebração à sua abdicação e retirada para Portugal. A música seria reproduzida em concertos e salas de ópera ao longo dos primeiros anos do Período Regencial e, em 1833, recebeu letra composta pelo desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva.
A letra é marcada pelo forte sentimento antilusitano e racista: nela os portugueses são apresentados como homens bárbaros, de sangue judaico e mouro. Os versos de Carvalho e Silva também possuem claras conotações republicanas e expansionistas, defendendo uma “unidade nacional do Amazonas ao Prata”, em alusão ao território uruguaio.
Com a Proclamação da República em 1889, os militares que assumiram o poder decidiram manter a composição de Carvalho e Silva, que tinha bastante popularidade nos círculos sociais da elite. No entanto, era necessária uma nova letra, que tivesse conexão com o novo momento do país, agora uma república.
A definição da letra do Hino Nacional Brasileiro
Já em 22 de novembro de 1889, foi aberto um concurso nacional para a escolha do novo hino. Diversas divergências fizeram com que a definição da letra se arrastasse por décadas, sendo definida apenas em um novo concurso realizado em 1909. O vencedor foi Duque-Estrada, o autor da letra que conhecemos e utilizamos até hoje.
Perfeccionista, o poeta passou os próximos 13 anos fazendo alterações em sua versão inicial, e o hino – com música e letra – foi finalmente oficializado em 1922, centenário da Independência do Brasil.
Mesmo com a oficialização da letra, ela continuou sendo alvo de discussões e debates na imprensa brasileira. Muitas pessoas não gostaram do resultado final e surgiram até mesmo campanhas para que a letra fosse substituída.
Entendendo o Hino Nacional Brasileiro
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.”
A primeira estrofe do hino descreve os eventos do dia 7 de setembro de 1822, às calmas margens do rio Ipiranga, na cidade de São Paulo, onde D. Pedro I proclamou a independência do Brasil. Em resposta, foi ouvido o grito (brado) do povo brasileiro. No céu, o sol da liberdade brilhava em raios intensos.
“Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!”
A liberdade dos brasileiros da opressão portuguesa foi conquistada com a força e determinação do povo. Agora, independentes, todos irão conhecer a liberdade e preservá-la com a própria vida, se necessário.
“Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!” (Refrão)
Aqui, o compositor fala com a Pátria, ou seja, o próprio Brasil, como se ela fosse uma pessoa, saudando-a e reconhecendo que ela é adorada por todos os brasileiros.
“Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à Terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece.”
Aqui o poeta fala diretamente ao país, novamente como se fosse uma pessoa. Quando a imagem do Cruzeiro do Sul (conjunto de estrelas presente em nossa bandeira) brilha no céu risonho e límpido, um sonho intenso e um raio de amor e esperança à terra desce e alcança o coração de todos os brasileiros.
“Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.”
Estes versos fazem menção às dimensões territoriais do Brasil. Gigante pela própria natureza, ou seja, em dimensões e belezas naturais, pelas suas matas, rios, praias e belas paisagens. Justamente por isso, também é forte e colosso, pois conta com muitas riquezas naturais.
“Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!”
Estrofe bastante literal, que expressa como o Brasil é uma pátria amada e gentil com seus filhos brasileiros.
“Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!”
Deitado em berço esplêndido faz referência à localização geográfica do Brasil que, segundo o poeta, é privilegiada, “ao som do mar e à luz do céu profundo”. Em sua localização, o Brasil brilha tal qual um florão, um tipo de enfeite de pedras preciosas.
“Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores.
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.”
Garrida significa algo ou alguém charmoso e elegante. Assim, esta parte do hino é dedicada a expressar o quanto o Brasil é um país belo e aconchegante, fazendo com que a vida de todos seja mais amorosa.
“Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
Paz no futuro e glória no passado.”
O poeta deseja que as estrelas estampadas na bandeira nacional sejam um símbolo de amor eterno de todos os brasileiros pela sua pátria. Da mesma forma, faz votos para que a cor de nossa bandeira seja um sinal de paz no futuro e glória no passado.
“Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.”
No último parágrafo antes de repetir o refrão, o poeta quer que o país viva sob amor e paz, mas, se necessário, seus filhos (os brasileiros) se erguerão para enfrentar a luta e defender a pátria.